Quando jogo era “descubra você mesmo”!
Olha, gamer raiz sabe do que eu tô falando: teve uma época em que não existia essa frescura de waypoint piscando, setinha na tela, HUD gigante ocupando metade do monitor e tutorial que demora mais que novela da Globo. A gente tinha que decorar caminho, prestar atenção nos diálogos e confiar na intuição. E quando errava, voltava tudo. Era sofrido? Era. Mas era também onde tava a graça.
Hoje, a maioria dos jogos te trata como criança em excursão escolar: “olha aqui, segure a mão do coleguinha, siga a seta azul, e se perder a mamãe busca no mapa”. E aí quando aparece um jogo que tira tudo isso e fala “vai, se vira, explora!”, eu já abro uma cerveja, ajeito a lombar na cadeira gamer e penso: finalmente, um jogo que respeita minha inteligência (ou a falta dela, dependendo do dia).
Então, bora falar de 5 grandes exemplos de jogos que chutaram o GPS e falaram: se você quer se encontrar, vai ter que se perder antes.
5. Morrowind (2002) – o Google Maps da fantasia medieval era o NPC da taverna
Lançado lá em 2002, The Elder Scrolls III: Morrowind é praticamente o pai dessa ideia. O jogo não tinha minimapa cheio de ícones, não tinha diário detalhado, não tinha tutorialzinho bobo. Você pegava uma missão e o NPC dizia algo tipo:
“Vá até a árvore torta depois do rio, vire à direita na pedra grande e siga até ver uma cabana meio caída”.
Era isso. Se você não prestasse atenção, já era. Ficava rodando em círculos até o sol nascer quadrado.
E sabe o que era melhor? Quando você finalmente achava o lugar, a sensação de conquista era absurda. Hoje, qualquer jogo coloca um ponto gigante no mapa dizendo “vá até aqui”, e perde metade da graça.
Morrowind era um RPG que te ensinava: ler é importante, prestar atenção mais ainda, e perguntar pro tiozinho da taverna pode ser a diferença entre encontrar tesouro ou virar churrasco de monstro.
4. Outer Wilds (2019) – explorando o universo e sua ansiedade
Outer Wilds é aquele jogo que parece indie fofo, mas na real é uma viagem existencial com direito a crises filosóficas. Você começa num planetinha simpático, pega uma nave feita de fita adesiva e madeira, e descobre que tem 22 minutos antes do universo resetar.
Não existe HUD te dizendo onde ir. Não existe tutorial explicando “faça isso, depois aquilo”. Você tem que observar, testar, morrer (muito) e tentar de novo. Cada planeta é um enigma vivo, cheio de física maluca, gravidade diferente e segredos escondidos.
E o melhor? Tudo que você descobre fica registrado na sua cabeça, não no diário do jogo. Outer Wilds te força a pensar, a conectar pistas e a montar o quebra-cabeça cósmico sozinho.
É tipo jogar Super Mario Galaxy depois de assistir três aulas de filosofia e dois vídeos do Carl Sagan. Você termina mais culto, mas também mais perdido na vida.
3. Hell is Us (2025) – o novato que teve coragem
Recém-chegado, Hell is Us já entrou nessa lista porque fez algo que poucos têm coragem: tirou todos os apoios artificiais da exploração em pleno 2025. Nada de mapa cheio de ícones, nada de linha brilhante.
Você controla Remi, um cara que volta ao país natal devastado por guerra civil e ainda tem que lidar com monstros místicos da tal “Calamidade”. A exploração é pura: se viu uma vila no horizonte, vá até lá. Se entrou numa caverna, boa sorte. Se morreu, paciência.
E o combate? Não é Souls-like, mas é desafiador o suficiente pra manter tensão. E tem até um drone chamado KAPI, que ajuda em alguns momentos – mas, sejamos honestos, drone não serve de muito quando você tá perdido no meio de ruínas e monstros te cercando.
Hell is Us é tipo aquele professor que não dá cola, mas também não te reprova de primeira: ele quer que você se esforce, erre, aprenda e sinta a vitória na marra.
2. The Legend of Zelda: Breath of the Wild (2017) – liberdade com GPS opcional
Sim, eu sei, Breath of the Wild tem mapa, tem marcação, tem torre de Ubisoft (ops, digo, torre de Sheikah). Mas a real é que o jogo brilha quando você esquece tudo isso e sai andando sem rumo.
Quer escalar uma montanha só pra ver se dá? Pode. Quer voar de planador até cair em cima de uma pedra aleatória? Vai fundo. Quer enfrentar um Lynel de cueca só com uma colher de pau? Também dá.
O mérito do BOTW é justamente esse: ele te dá ferramentas e deixa você criar sua própria jornada. É como se dissesse: “olha, a missão principal tá ali, mas se quiser fritar peixe na beira do rio por três horas, manda ver”.
É liberdade real, e por isso merece estar no pódio.
1. Minecraft (2009) – o rei dos jogos sem manual
E no topo, claro, tá Minecraft. Esse aqui foi o verdadeiro divisor de águas. Você nasce no meio do nada, sem HUD, sem tutorial, só com a cara e a coragem. À noite, vem zumbi, aranha, Creeper… e aí você percebe: “talvez cavar um buraco e me esconder seja uma boa ideia”.
Tudo é tentativa e erro. Como faz uma picareta? Descobre. Como acende tocha? Testa. Como mata o Ender Dragon? Boa sorte, campeão.
Minecraft virou um fenômeno mundial justamente porque não pegava ninguém pela mão. Ele deixava você aprender, criar e descobrir no seu ritmo. E essa sensação de conquista pessoal é algo que nenhum GPS de jogo AAA consegue reproduzir.
Se perder faz parte da diversão
Esses 5 jogos provam que explorar de verdade significa errar caminho, quebrar a cara e depois sorrir quando encontra a saída. Num mercado cheio de jogos que mais parecem aplicativos de Waze, é refrescante ver títulos que ainda têm coragem de dizer: “a jornada é sua, não vou te guiar”.
E cá entre nós, não tem nada mais satisfatório do que olhar pra trás e pensar: “achei isso sozinho”.
Então, da próxima vez que um jogo te der minimapa cheio de ícones e tutorial infinito, faça um favor a si mesmo: desligue tudo e se perca. Pode doer no começo, mas vai ser a melhor parte da experiência.
Nota final do tiozão R
